Refugiados no mundo
Segundo a Agência Brasil, em 2018 o número de pessoas obrigadas a deixar suas casas e seus países e se deslocar pelo mundo bateu novo recorde chegando a quase 69 milhões.
Alguns dados indicam que em 2017 mais de 170 mil crianças (menores de 14 anos) foram separadas de suas famílias ou obrigadas a pedir refúgio desacompanhadas de seus pais. Além disso, dentre todos os refugiados, mais da metade era de composta de pessoas menores de 18 anos.
É mais do que urgente olharmos para essa situação que configura o mundo e as relações sociais de uma nova forma.
E esse livro é um belo ponto de partida.
Dois Meninos de Kakuma
Não é um livro com uma capa atrativa e nem poderia ser. Mas o olhar que salta da foto é o que nos convida a conhecer a história dos meninos de Kakuma.
O livro escrito por Marie Ange Bordas e publicado pela Editora Pulo do Gato é uma narrativa de ficção inspirada na convivência da autora com adolescentes em um campo de refugiados no Quênia. Contado em primeira pessoa por Geedi e Deng. Geedi é um menino que já nasceu em Kakuma e, como Marie diz no livro, nunca teve “vida normal”. Mas pra ele, toda sua infância foi normal, afinal é a única que ele conhece. A família de Geedi veio da Somália e ele quer crescer e ser dono da sua vida.
Deng nasceu no Sudão e é um personagem inspirado nos “garotos perdidos do Sudão”, jovens meninos sem família ou adultos que chegaram em Kakuma em 2001 fugindo da guerra. Deng chegou em Kakuma aos 8 anos e ainda se lembra do seu vilarejo em chamas. O menino faz parte da equipe de corrida do campo e reflete sobre as guerras e seu futuro.
Os dois meninos narram através seus olhares, um pouco sobre o que é a vida nesse lugar seco, inóspito, no qual poucos adultos são autorizados a trabalhar.
Um livro impactante
É muito difícil falar dessa obra tão forte, sensível e tocante em poucas linhas. Eu fiquei exatasiada, paralisada, mexida. Mas acima de tudo é um livro necessário, para ser compartilhado entre famílias e crianças ou escola e crianças. É imprescindível que a gente saiba a história dessas pessoas, que não têm controle ou previsão do seu próprio futuro, já que chegaram à uma moradia provisória que se tornou permanente. As imagens são fotos lindíssimas e impactantes (tiradas por Marie) misturadas com desenhos feitos pelas próprias crianças nas oficinas que ela deu. Ao final do livro, uma parte informativa completa para que a gente entenda a realidade do que a autora chama de deslocados.
Tive a oportunidade de assistir Marie Ange na nossa parceira Livraria da Travessa e foi muito bom poder ouvir e aprofundar seus relatos. O livro pega a gente lá no fundo, nos fazendo questionar sobre a nossa própria história, nossa rotina, sobre o outro lado, a vida, a sobrevida e a resiliência.
Indicado para leitores autônomos, experientes e adultos.
Boa leitura e boa conversa!