Livro Ilustrado
A literatura infantil anda ficando cada vez mais genial. Os livros ilustrados então, nem se fala. Aliás, é reducionismo dizer que essas obras como essas são direcionadas somente à infância, bons livros são para todas as idades. E eu fico tão animada quando encontro publicações assim, que utilizam tudo que esse objeto pode dar: imagem, texto, projeto gráfico.
Esse é o caso de O muro no meio do livro de Jon Agee e publicado no Brasil pela Pequena Zahar.
O autor americano usou o meio do livro como personagem da história. Ok, isso não é novidade. Suzy Lee já fez, Isabel Minhós Martins já fizeram isso. Quem não conhece a Trilogia da Margem e “Daqui ninguém passa” corre pra procurar, são obras sensacionais.
O Muro no meio do Livro
Mas, no meio desse livro tem um muro. E ele divide os dois cenários dessa história pra lá de irônica. De um lado, o personagem narrador, tranquilo e seguro de que seu lado é o melhor (quem nunca?). Do outro, animais assustadores. Será?
O personagem do lado de cá não conhece bem o que há do lado de lá, mas tem suas impressões. Como todos nós. O problema é quando as impressões viram certezas e nos aprisionam do lado de cá do muro, nos impedido de passar pro lado de lá ou pior, impedindo que o lado de lá transite para onde quiser.
Mas há um grande perigo que ronda o personagem narrador sem que ele saiba. O leitor é onisciente, é ele que pode ver tudo o que acontece e tirar suas conclusões.
O soldadinho, coitado, não sabe de nada… Enquanto seu lado vai sendo inundado pela água e um jacaré quase o devora, ele teme o Ogro, grande e assustador do outro lado do muro.
E é justamente seu suposto inimigo que ultrapassa o topo do muro e salva o soldadinho de ser devorado. Irônico, não é?
Reflexões
São milhões de interpretações, discussões, reflexões e conversas possíveis a partir dessa obra. Basta que a gente ultrapasse as barreiras e olhe através dos nossos muros. Temos tantos. Tivemos tantos ao longo da história. O muro é uma metáfora e tanto.
Uma história dessas escrita por um americano em 2018 não é à toa. É essencialmente um livro político, mas uma política das nossas entranhas, das decisões do dia-a-dia.